domingo, 18 de julho de 2010

Crítica: Kick-Ass - Quebrando Tudo

O horror de ser um herói


O protagonista acende a luz, e ao se olhar no espelho fica perplexo vendo seu rosto ferido. Não é a primeira vez que ele sofre ferimentos desse tipo, mas ao ver seu reflexo ali, percebe que não basta "apenas" ter uma ideologia; é preciso saber encarar as dores que esse caminho lhe trará. Ele quis entrar de cara nesse mundo, e voltou com o rosto ensanguentado.

Ser um herói nunca foi como parecia ser.

Este é Dave Lizewski, um adolescente comum, fanático por revistas em quadrinhos, nunca foi popular e não se relaciona muito bem com as garotas. Certo dia ele lança a seguinte pergunta: porque ninguém nunca tentou ser um super-herói? Afinal, com todos esses quadrinhos e filmes por aí, é meio difícil imaginar que ninguém nunca tentou até agora. Mas não importa se seus amigos dizem que um herói na vida real iria morrer em um dia, Dave compra uma roupa de mergulho no eBay, arranja dois bastões e sai às ruas para combater o crime, se autodenominando Kick-Ass. Após ser filmado em uma briga com alguns marginais, o vídeo cai na internet e ele se torna conhecido por todos, incitando o surgimento de novas figuras mascaradas.

Kick-Ass - Quebrando Tudo, terceiro filme do diretor inglês Matthew Vaughn, é baseado na graphic novel homônima escrita por Mark Millar e ilustrada por John Romita Jr. A HQ funciona como uma desconstrução do gênero e choca por ser bastante violenta e cínica ao mesmo tempo. A adaptação pros cinemas traz algumas mudanças em relação à isso: sai o cinismo, e o clima pessismista dá lugar ao otimismo. O humor negro continua de pé, e a violência se torna mais verossímil.


Humor e drama são fatores bastante explorados no longa, e servem também como uma representação do próprio personagem principal. Para Dave, a ideia de se tornar um herói era animadora e empolgante no começo, mas com o tempo ele percebeu o quanto isso exigia dele.

Durante a narrativa, vamos conhecendo os outros personagens, alguns deles também sendo os novos heróis depois de Kick-Ass. Big Daddy e Hit-Girl (pai e filha) são dois "profissionais" que matam criminosos sem piedade, e agem fora dos olhos da população. Já Red Mist é aquele que preferiu garantir destaque na mídia e a simpatia do povo, e logo se une ao Kick-Ass para patrulharem juntos.
No final das contas, todos eles acabam indo rumo à mesma finalidade: Derrumar a máfia da cidade, liderada pelo chefão Frank D'Amico.


Aaron Johnson interpreta perfeitamente o protagonista, assim como Christopher Mintz-Plasse, no papel de Red Mist. Nicolas Cage como Big Daddy é excepcional, com seus trejeitos peculiares, e Chloë Moretz dá um show em cena como Hit-Girl. Esses dois merecem destaque por conseguirem uma química perfeita, fazendo com que a relação carinhosa entre eles, quando não estão fantasiados, seja agradável de se acompanhar.

As cenas de luta e de ação são todas muito bem feitas, passando por coreografias naturais, como na cena do Kick-Ass brigando com marginais na rua, e indo até às mais estilizadas, como as sequências da Hit-Girl. As canções da trilha sonora surgem para fazer a combinação perfeita. Mas a trilha instrumental (composta por mais de um compositor) também se destaca. A música sempre foi um fator importante, e em Kick-Ass ela consegue dar vida ao tom do filme, seja qual for o clima que a cena pede.
Fãs de Danny Boyle poderão perceber músicas de alguns de seus trabalhos, sendo uma delas uma versão alternativa de Adagio In D Minor, da trilha de Sunshine - Alerta Solar, que toca numa sequência de ação incrivelmente bem dirigida.


A "polêmica" do filme com os fãs da HQ foi as mudanças de adaptação, pois Vaughn optou por trazer novos elementos à trama e eliminar alguns já existentes. O falso mistério do surgimento do Red Mist não existe mais, porém o personagem ganhou um ótimo desenvolvimento. Existem outras mudanças mais significativas, mas não chegam a prejudicar a história.

Nas duas mídias,
a história mostra de perto toda a tragédia que é ser um herói no "mundo real". No caso da versão cinematográfica, o quesito emocional é mais aprofundado, então fica fácil o telespectador sentir mais pelos personagens. Vai de cada um escolher qual versão mais lhe agrada, porém uma coisa é certa: por trás de uma premissa simples, existe um extenso conteúdo artístico na obra.

Kick-Ass veio para quebrar tudo, realmente.





Nome original
: Kick-Ass
Ano: 2010
Duração: 117 minutos
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Jane Goldman, Matthew Vaughn, Mark Millar
Elenco: Aaron Johnson, Christopher Mintz-Plasse, Chloë Moretz, Nicolas Cage, Mark Strong, Clark Duke, Evan Peters, Lyndsy Fonseca

Imagens: divulgação

Um comentário:

BlogBlogs.Com.Br