sábado, 19 de junho de 2010

Crítica: Toy Story 3

Ao infinito e além, onde cinco estrelas não são o suficiente


Primeiro veio Toy Story, todo o apuro visual, os personagens que todos aprenderam a amar, o roteiro brilhante e a revolução no jeito de fazer um longa de animação: completamente feito em computação gráfica. Depois, o não tão bom – mas divertido – Vida de Inseto. Em seguida, a sequência de Toy Story, onde novos personagens surgiam e o universo era ainda maior e o filme no nível do primeiro. Depois, a conciliação de perfeição visual (já pararam pra pensar como é difícil fazer os pêlos do Sully?) e estética (o melhor fundo do mar do cinema) com histórias lindas em Monstros S.A. e Procurando Nemo. Os problemas familiares de Os Incríveis, a velocidade de Carros e a amizade e repulsa ao preconceito de Ratatouille. Daí, o aparente ápice do estúdio, com o chapliniano robozinho Wall-E e todas as outras homenagens, principalmente a 2001 – Uma Odisseia no Espaço, que fez nos apaixonarmos pelo protagonista e pela EVA. Mantendo o nível do anterior, chegou o badalado Up – Altas Aventuras, com Carl Frederiksen, Russel, Dug e Kevin, colocando a Pixar entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme pela primeira vez. Sim, o ápice era aparente. Porque o que parecia perfeito, conseguiu melhorar, se aperfeiçoar. O novo ápice da Pixar é seu mais novo filme: Toy Story 3.

O universo você já conhece: os brinquedos têm vida e fazem tudo pra que seus donos se divirtam com eles. A história do terceiro filme é a seguinte: Andy (John Morris), hoje com 17 anos, não brinca mais com seus brinquedos e, agora que vai sair de casa pra ir à faculdade, tem que escolher um destino para os brinquedos que restam. Andy, então, decide guardar seus amigos no sótão, com exceção de Woody (Tom Hanks), que ele guarda nas coisas que irão com ele pra faculdade. Por um acidente, todos os brinquedos vão parar como doação numa creche, a Sunnyside. Creche, essa, que parece o paraíso para brinquedos rejeitados, abandonados e esquecidos. Lá somos apresentados a diversos novos personagens. Agora Woody, Buzz (Tim Allen), Jesse (Joan Cusack) e companhia terão que enfrentar diversos desafios e percalços para voltar à casa de Andy.



Ao contrário do que um filme normal em um estúdio normal faria, Toy Story 3 não transforma Andy num adulto frio. Pelo contrário, o roteiro de Michael Arndt (Pequena Miss Sunshine) mostra de maneira extraordinária que crescer não é fácil, e a hesitação de Andy de doar seus amigos de uma época inocente e pura que não volta mais, é não menos que soberba. Outro ponto forte do filme é já começar mostrando os brinquedos sob o olhar do Andy criança, para, em seguida, acompanharmos o crescimento dele sob os “olhos da mãe” (câmeras caseiras).

Desnecessário falar da abordagem do filme quanto à amizade, preconceito, autoritarismo, abandono etc. E o humor, então, que todos já conhecemos e adoramos, está lá. Tudo. Do jeito que a gente gosta. O mau-humor do Sr. Cabeça-de-Batata, a covardia e inocência de Rex, o Buzz voltando a achar que é um patrulheiro espacial, a “estabanação” de Woody… e agora um componente a mais: a “vaidade” de Ken, o famoso boneco namorado da Barbie. E a personalidade de todos os personagens estão impecáveis, nunca caindo em clichês que facilmente poderiam acontecer. A firmeza demonstrada pelos brinquedos num momento em que tudo parecia perdido é tocante e genial.



Seguindo o padrão Pixar, tecnicamente o filme também é irretocável. A animação é sensacional como sempre, com movimentos fluidos e expressões fantásticas. A direção de arte também se sobressai: o quarto de Andy, antes mesmo dele aparecer mais velho, já denuncia seus novos interesses, já que o antigo e conhecido papel-de-parede de nuvens, agora está coberto de posters e tudo o mais; a creche também é muito bem feita, detalhista e real, combinando a sala comportada com a sala das crianças mais novas, desde a bagunça, objetos jogados, desenhos pendurados ou fixados à parede… tudo impecável. A fotografia também é estupenda, mudando sutilmente a paleta nos diversos ambientes, mostrando só com isso perigo, segurança ou alegria, mas o faz sem parecer ofensiva. Alguns efeitos de iluminação também engrandecem o trabalho de Jeremy Lasky, diretor de fotografia (a “sala de tortura” é fantástica).

O clímax do filme é espetacular e desesperador, e conduzido de maneira perfeita pelo diretor Lee Unkrich. A trilha sonora de Randy Newman também não deixa por menos, e simplesmente se coloca a franca favorita ao Oscar 2011. Falando em Oscar, não é absurdo pensar que Toy Story 3 não só repetirá o sucesso de Up – Altas Aventuras, como deve também ser um dos grandes favoritos nas principais categorias. E todas as lágrimas acumuladas durante todo o filme, serão despejadas sem dó com a cena final. Este é o melhor filme do estúdio, e se continuar se superando desse jeito nos próximos filmes, se algum conseguir ser melhor que Toy Story 3, vou começar a ficar com medo da Pixar.

Três adendos:

1 – O curta exibido nos cinemas junto com Toy Story 3, Dia & Noite, é simplesmente sensacional, lindo, tocante, inteligente e inventivo. Chegue com boa antecedência à sala de cinema pra poder assisti-lo já confortável na poltrona;

2 – O filme tem a aparição de um personagem que conhecemos no primeiro filme, será que você reconhece?

3 – Agora com a trilogia fechada, Toy Story fica em pé de igualdade às trilogias de Senhor dos Anéis e Poderoso-Chefão como as melhores de todos os tempos.





Nome original: Toy Story 3
Ano: 2010
Duração: 103 minutos
Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Michael Arndt, a partir de conceito de Andrew Stanton, John Lasseter e Lee Unkrich
Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Michael Keaton, Blake Clark, Don Rickles, John Morris

Imagens: divulgação

Crítica: Up - Altas Aventuras

A minha maior aventura...


Eu me lembro de que logo depois de ter visto esse filme no cinema, ainda com os olhos vermelhos de tanto chorar, confessei a um amigo meu que aquele teria sido sem a menor dúvida o clássico da minha geração. Lembro-me de ter dito algo mais ou menos assim: "Sempre esperei por um filme que me encantasse de tal maneira que eu o levaria sempre comigo, através dos anos, até o fim da minha vida. Aquele filme que eu assistiria inúmeras vezes. Eu o veria com os meus filhos, depois com os meus netos e assim por diante.". Lembro de ter dito isso e minha voz ter até falhado devido a emoção que emanava ao descrever o filme que eu havia acabado de ver.

O filme em questão trata-se do novo triunfo da Pixar. O estúdio arrisca-se mais uma vez ao trabalhar com novas possibilidades, unindo em uma única trama personagens tão distintos e ao mesmo tempo tão semelhantes. Dividem a tela o velho rabugento Carl Fredericksen e o falastrão explorador da natureza Russel.

Carl é um vendedor de balões de 78 anos aposentado e viúvo. Amargurado e prestes a perder a sua casa, ele toma fôlego para realizar uma viagem em busca do Paraíso das Cachoeiras, localizado na América do Sul. Sua casa "alça vôo" com a ajuda de milhares de balões. Mas tudo ameaça dar errado quando ele percebe que não está só nessa viagem, o pequeno Russel acaba fazendo inadvertidamente parte dessa jornada.


Encontram-se ali duas gerações que durante todo o filme dividirão experiências de vida e concluirão uma só coisa: a vida independente de como ela seja, será sempre uma aventura. Para tanto, desenvolve-se uma história que ganha vida através da singularidade de cada personagem. Além de Carl e Russel, lá estão: o fiel cachorro falante (!) Dug e a ave Kevin (!) - Dois personagens que despertam fortes características ocultadas pela cara amarrada do sr. Fredericksen.

A Pixar nos entrega aqui o filme mais forte e tocante de sua carreira. Pela primeira vez, assuntos como: morte, perda e recomeço são abordados de forma clara e intensa. A sequência inicial é fantástica por conseguir sintetizar a vida de Carl em apenas quatro minutos, acentuando os seus momentos mais marcantes. Prepare uma caixa de lenços.


O filme destaca-se também pela parte técnica. O visual é primoroso (embora não supere o de Wall-e). A música composta por Michael Giacchino é soberba! É daquelas trilhas que já nascem clássicas, comprovando assim o já anunciado talento do músico.
Destaque também para a dublagem brasileira que ficou simplesmente perfeita! Chico Anysio foi uma escolha mais que acertada para ser a voz de Carl Fredericksen.

Não consigo traspor tudo o que sinto em relação a esse filme. É puro coração. É a prova de que não existem barreiras para se contar uma boa história, seja ela com personagens reais ou animações. Mas não se engane, com uma história dessas, não duvido que esse velho rabugento tenha mesmo existido.

Trabalho mais do que digno de Oscar. Uma legítima obra-prima.

E que a Pixar voe cada vez mais alto em busca de novas aventuras.


P.S.: Esquilo!





Nome Original: Up
Ano: 2009
Duração: 96 minutos
Direção: Peter Docter e Bob Peterson
Roteiro: Peter Docter e Bob Peterson
Elenco: Christopher Plummer, Edward Asner, Jordan Nagai, Bob Peterson, John Ratzenberger e Ellie Docter

Imagens: divulgação

Crítica: Wall-E

Uma odisseia "chapliniana" no espaço


Wall-E tem início com a forte imagem da atual situação (no filme, não a nossa… ainda) do Planeta Terra: pilhas de lixo compactado, quente e praticamente deserto, a não ser pelo autor da compactação do lixo: Wall-E (Ben Burtt). O robozinho foi criado e programado pra isso, pra limpar a Terra enquanto os humanos fugiram pra viver em uma nave no espaço, a Axiom. É claro que não era somente ele, eram vários, mas só este aguentou as condições climáticas e o trabalho excessivo e contínuo depois de 700 anos! Até que um dia surge uma nave estranha do céu e dela sai uma robô diferente, branca, “moderna” (seu design foi feito com a ajuda de designers da Apple) e feminina. É EVA (Elissa Knight), a quem o solitário Wall-E (só tem a companhia de uma simpática baratinha) logo se interessa e passa a seguir. No começo ela não dá atenção ao nosso protagonista, mas ele é insistente e logo ela (junto com a gente) começa a ceder aos encantos do robozinho, até que algo inesperado acontece e a nave volta pra buscar EVA e Wall-E, desesperado, vai atrás dela. E vai parar justamente na nave onde os humanos vivem.

O primeiro “diálogo” do filme surge apenas aos 23 minutos de projeção. Apesar da “demora”, o filme não é em momento algum cansativo, já que todo esse primeiro ato serve pra mostrar a degradação da Terra causada pelos humanos. Tudo é feito com maestria graças ao excelente design de produção, ao excelente trabalho do diretor Andrew Stanton, que conduz com soberba habilidade a narrativa e, também, graças à trilha sonora de Thomas Newman, indicada ao Oscar. A fotografia também é outro ponto alto, com suas cores saturadas. Aliás, o diretor de fotografia contratado é ninguém menos que Roger Deakins, conhecido por ter fotografado filmes como O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, Uma Mente Brilhante, O Leitor, além de vários trabalhos com os irmãos Coen. Todo esse design do primeiro ato serve pra fazer um contraste maravilhoso com tudo que encontraremos na Axiom; todas as cores, a tecnologia evoluidíssima etc.



Também no primeiro ato, a personalidade de nosso querido robô que batiza o filme é completamente desenvolvida. E temos aqui um exemplar eletrônico de Charles Chaplin! Sim, queridos leitores, Wall-E nada mais é que uma homenagem a um dos maiores ícones do cinema de todos os tempos. A pureza, a simplicidade, a curiosidade, o jeito atrapalhado, a paixão por experiências novas e os olhos. Sim, Wall-E se comunica e expressa suas emoções de maneira sensacional com seus olhos, bem como Chaplin (quem não lembra do olhar do Vagabundo no final de Luzes da Cidade?). E o que dizer da coleção de Wall-E? Retira do lixo os objetos que ele se encanta, desde cubo mágico, até lâmpadas. E sem esquecer, é claro, da fita do filme Alô, Dolly, de 1969, o filme preferido de Wall-E (será que não é o único filme que ele conhece?). Uma imagem que contém um simbolismo enorme é uma em que ele encontra uma caixinha com anel brilhante dentro e logo se livra do anel e fica com a caixinha.

A turma de coadjuvantes também não fica atrás. EVA puxa o grupo como o interesse de Wall-E, determinada e inteligente, ela se encaixa perfeitamente na personalidade do protagonista. M.O., o robozinho aficcionado por limpeza, é garantia de sinceras risadas em todas as suas cenas e se firma (porque não?) como um dos melhores e mais divertidos coadjuvantes da filmografia da Pixar. E AUTO, praticamente uma re-encarnação de HAL9000, de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, também rivaliza com os outros personagens em cena. Falando em 2001 – Uma Odisseia no Espaço, é interessante observar as inúmeras homenagens que Wall-E presta ao maior clássico da ficção-científica dirigido por Stanley Kubrick. As mais óbvias são o AUTO e a música Assim Falou Zaratustra, o eterno “tema” do longa de Kubrick.



O filme teve seis indicações ao Oscar em 2009, mas poderiam (deveriam) ter sido sete, pelo menos, já que a Disney fez forte campanha pra que Wall-E estivesse entre os indicados a Melhor Filme, não apenas entre os de Melhor Animação. O que, infelizmente, acabou não acontecendo, gerando até um certo desconforto na Academia, com a evidente injustiça. Injustiça essa, que a Academia tentou consertar colocando Up – Altas Aventuras na categoria no ano seguinte. Além de Melhor Animação (o único Oscar que Wall-E levou pra casa), o filme foi indicado a Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (Down to Earth) e Melhor Som e Mixagem de Som, que foram feitos pelo ilustre Ben Burtt, que fez os sons de Star Wars.

Wall-E se firma com uma clássico contemporâneo, como um dos grandes e mais importantes filmes desse século. Intelectualmente, o filme mais trabalhado. O mais adulto também, diga-se. Mesmo assim, o fascínio que Wall-E provoca não vê idades, já que conquista a todos. E é, diferentemente da maioria dos filmes que tratam da vulnerabilidade e fraqueza humana, extremamente otimista, onde somos guiados por um robô de volta ao caminho da redescoberta da importância de conhecer coisas novas, de viver coisas novas, de ser livre de preconceitos e/ou excessivo apego material, a resolução de que devemos aceitar diferenças, conviver com elas, aceitá-las e apreciá-las. Descobrir novamente que esse planeta é a nossa casa, e que temos que cuidar bem dela juntos, pois somos todos moradores dela. Pra ela, não há fronteiras de países, não há distinção de cor, credo ou opção sexual. E é assim que nós, humanos, devemos nos portar. Esse é o caminho. Wall-E é uma obra-prima. Uma ode ao amor. Uma ode à vida!





Nome Original: Wall-E
Ano: 2008
Duração: 98 minutos
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton
Elenco: Ben Burtt, Sigourney Weaver, Elissa Knight, Jeff Garlin

Imagens: divulgação

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Crítica: Ratatouille

Homem ou rato afinal?


Imagine um rato na cozinha. Parece nojento, não é?
Uma das coisas mais legais é saber brincar com as antíteses da vida. Improváveis parcerias sendo colocadas a prova em mais um maravilhoso filme dos Estúdios Pixar.
Conheça Rémy, um rato que sonha em se tornar um grande chef. Só que sua família é contra a idéia, pois sua condição de rato não permite que ele permaneça numa cozinha sem ser atacado por um humano enfurecido. Um dia, enquanto estava nos esgotos, ele fica bem embaixo do famoso restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau (Brad Garrett). Ele decide visitar a cozinha do lugar e lá conhece Linguini (Lou Romano), um atrapalhado ajudante que não sabe cozinhar e precisa manter o emprego a qualquer custo. Rémy e Linguini realizam uma parceria, em que Remy fica escondido sob o chapéu de Linguini e indica o que ele deve fazer ao cozinhar.

Após ter criado mundos alternativos, a Pixar decide focar-se em uma história totalmente ambientada no mundo "humano", especificamente em Paris. A cidade luz, conhecida pelos seu clima nostálgico de lindos cartões-postais e dos melhores restaurantes. É nesse inspirado ambiente em que acompanhamos a jornada do astuto Rémy em busca do seu maior sonho.
É um filme que deve ser visto. Embora não seja o melhor do estúdio, Ratatouille tem uma indentidade única, um filme despretensioso que aos poucos vai alcançando o coração de quem assiste.

É como se aos poucos lembrássemos de velhos sonhos da infância que ficaram esquecidos com o passar do tempo. Tem algo naquele rato que representa muito bem esse lado da aceitação e de que um verdadeiro dom pode emanar de qualquer um. Eu sei que parece um discurso meio viajado, mas um filme bom como esses me faz pensar nessas coisas.

Não comentarei sobre cenas, sequências ou falas.

Apenas uma sugestão da casa: prove desse filme!




Nome original:
Ratatouille
Ano: 2007
Duração: 111 minutos
Direção: Brad Bird
Roteiro: Emily Cook, Kathy Greenberg, Jan Pinkava, Jim Capobianco e Brad Bird
Elenco: Patton Oswalt, Lou Romano, Peter Sohn, Brad Garrett, Janeane Garofalo, Ian Holm, Brian Dennehy e Peter O'Toole

Imagens: divulgação

Crítica: Carros

Diversão em velocidade equilibrada


Relâmpago McQueen é um famoso carro de corrida e o primeiro estreante a chegar à final de uma Copa Pistão. O sucesso fez com que ele confiasse demais em seu ego, direcionando seus faróis para a fama e o desejado contrato com a equipe Dinoco.
Mas algo inesperado acontece na corrida decisiva do campeonato: Relâmpago empata com os outros dois líderes da temporada, e os três terão que competir numa outra corrida para se ter o campeão. Durante a viagem para o destino da decisão, McQueen acaba se perdendo acidentalmente e indo parar numa outra estrada, levando-o para uma cidadezinha esquecida chamada Radiator Springs.

Essa é basicamente a trama inicial de Carros, 7º longa-metragem da Pixar Animation Studios.


O primeiro desafio do estúdio ao realizar o filme provavelmente foi o de criar uma história num mundo habitado somente por carros e outros automóveis e veículos. Para isso era preciso adaptar vários elementos do nosso cotidiano para que se encaixassem no filme, e foi uma tarefa que se mostrou muito bem realizada pois, junto com os sentimentos, motivações e ações inseridos nos personagens, em muitos momentos esquecemos que o que estamos vendo são máquinas, e não pessoas.

O protagonista Relâmpago, ao chegar em Radiator Springs, é mantido preso pelo xerife da cidade até consertar os estragos causados na estrada pela sua chegada conturbada. Lá ele conhece um companheiro e enferrujado caminhão-reboque chamado Tom Mate, a Porsche Sally, entre outros simplórios moradores da pequena cidade. Aos poucos McQueen desiste de encontrar uma maneira de escapar e passa a ver nos "caipiras" carros que ele aprendeu a chamar de amigos.


A história se preocupa em mostrar a evolução do personagem principal. Enquanto vemos isso, acompanhamos as várias situações divertidas que o filme proporciona, algumas delas envolvendo os moradores de Radiator Springs. Filmore, a Kombi hippie, por exemplo, é dona de algumas das ótimas sacadas engraçadas do longa.

A turma de secundários no geral é bastante divertida. Mate mostra ser um leal e verdadeiro amigo, que conquista facilmente o público. Sally não é lá uma personagem tão interessante, mas funciona bem junto ao Relâmpago.
Outros personagens que conseguem arrancar boas risadas são os italianos Luigi e Guido.


Talvez o filme se torne um pouco cansativo depois de seu segundo ato, por diminuir um pouco o ritmo. Mas não é algo que se sobrepõe, pois a comédia e o drama ajudam a manter o nível até o ato final, onde volta a emoção das corridas.

O filme teve uma participação no Oscar, concorrendo ao prêmio de melhor animação (categoria que a Pixar faz a festa praticamente todos os anos), mas acabou perdendo para o excelente Happy Feet.

A animação ganha pontos por explorar assuntos como amizade, companheirismo e também a redenção de caráter. Carros pode realmente não ter o mesmo impacto que a maioria dos filmes do estúdio têm, mas mesmo assim eu o considero um filme digno da Pixar. Humanizar tão bem elementos inumanos que na visão de muitos têm "vida" é algo que, por si só, já merece meu respeito.





Nome original: Cars
Ano: 2006
Duração: 116 minutos
Direção: John Lasseter, Joe Ranft
Roteiro: Dan Fogelman, John Lasseter, Joe Ranft, Kiel Murray, Phil Lorin, Jorgen Klubien
Elenco: Owen Wilson, Bonnie Hunt, Larry the Cable Guy, Paul Newman, Tony Shalhoub, John Ratzenberger, Cheech Marin, Michael Keaton

Imagens: divulgação

Crítica: Os Incríveis

Uma incrível família de incríveis super-heróis


Brinquedos que falam e se mexem sozinhos, o mundo no ponto de vista dos insetos, monstros vivendo em sociedade, a vida submarina... Essas são algumas das premissas básicas que a Pixar já explorou no decorrer dos anos. Mas depois de Procurando Nemo, com o sucesso dos filmes de super-heróis, nada mais justo esse ser o novo tema do estúdio, não é mesmo?
E a Pixar fez seu dever de casa. Os Incríveis não é só mais uma animação premiada, mas também um representante de peso da safra dos filmes de super-heróis de sua década.

O filme começa no auge dos tempos do heroísmo, com heróis fantasiados que rodam as ruas da metrópole salvando gatos que sobem em árvores e impedindo assaltos de grandes proporções. É aí que conhecemos o Sr. Incrível - alter ego de Beto Pêra - um super-herói popular e adorado por todos, com o poder da super força e resistência; e a Mulher-Elástico, a heroína flexível, tanto nos poderes quanto nas atitudes.
Mas o governo está para colocar em prática uma lei que proibe o super-heroismo, devido à alguns acontecimentos prejudiciais à população pelos atos de alguns heróis. Todos agora terão que pendurar os uniformes.

Somos transportados então para o tempo presente do filme. O Sr. Incrível trocou os músculos pela barriga e vive apenas como o cabisbaixo Beto Pêra, casado com Helena, a Mulher-Elástico. O casal tem três filhos: Violeta, a garota tímida e insegura, com a capacidade de criar campos de força e de ficar invisível; Flecha, o garoto hiperativo, com o poder da supervelocidade; e o bebê Zezé, o único que ainda não apresentou nenhuma habilidade extraordinária.

Saudoso dos tempos em que salvava pessoas, Beto acaba recebendo um misterioso chamado para voltar a ser o Sr. Incrível de vez, convite que ele aceita sem pensar duas vezes. Mas aos poucos descobre que por trás dessas missões isoladas está o maligno vilão Síndrome.


Tirando os poderes especiais, a família Pêra não passa de uma família normal. Brigas e discussões acontecem com frequência, e a maneira como é trabalhada a relação entre eles é extremamente bem elaborada. Os conflitos internos deixam tudo bastante coerente.
Esse é um dos méritos do filme, transformar uma família superpoderosa numa família comum, com problemas comuns.

Os personagens são outro ponto alto da animação. Todos muito bem trabalhados e explorados, inclusive o Síndrome, que além de ser um vilão cruel, é bastante carismático, se transformando num dos personagens mais divertidos do longa. Há também espaço mais outros legais, como o herói Gelado e a estilista Edna Moda.

Já era de se esperar que o filme traria as melhores cenas de ação do restante do estúdio. As sequências são espetaculares, tudo numa dinâmica de edição incrível, fazendo com que o filme fique impecável visualmente.

Um quesito a destacar é a fotografia e a iluminação. Vemos, por exemplo, as cenas iniciais, onde é mostrada a "era de ouro" dos super-heróis. A iluminação traz cores fortes e vivas, com um tom dourado que se sobrepõe para mostrar a glória dos heróis em sua época. Quando passamos para a cena do Beto desanimado em seu trabalho, anos depois, a iluminação muda para cores menos vibrantes (inclusive nos objetos de cena).
Mas a sensação de glória volta. Na cena onde Beto olha para os cartazes e recortes do Sr. Incrível na parede de sua casa, após receber o convite de retorno, a iluminação retorna com as cores douradas. Uma cena fantástica, que mostra como esse fator técnico interfere diretamente no clima do filme.


Por mostrar conflitos familiares o filme é elevado para outro nível, pois é difícil imaginar que uma animação voltada para o público infantil iria trabalhar conceitos dessa forma. É por explorar elementos fora do padrão das animações de Hollywood que Os Incríveis conseguiu o reconhecimento que ele tem até hoje.


Como eu disse no começo, a Pixar fez seu dever de casa...

E eu não vejo outra nota justa, além de 10.




Nome original
: The Incredibles
Ano: 2004
Duração: 121 minutos
Direção: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Elenco: Craig T. Nelson, Holly Hunter, Sarah Vowell, Spencer Fox, Samuel L. Jackson, Jason Lee, Brad Bird

Imagens: divulgação

terça-feira, 15 de junho de 2010

Crítica: Procurando Nemo

Quem disse que o fundo do mar é sem-graça?


Marlin (Albert Brooks) é um peixe-palhaço, vive feliz ao lado de sua esposa, Coral (Elizabeth Perkins), e suas centenas de ovas. Porém, acontece um ataque de um predador, com trágicas consequências: todos morrem, com exceção ao pai Marlin e o jovem filho Nemo (Alexander Gould). O trauma do ocorrido faz com que Marlin se torne um pai extremamente super-protetor, já que Nemo é tudo que lhe resta na vida. Mas essa super-proteção acaba limitando a liberdade do jovem peixinho, já que seu pai não permite que ele faça várias coisas, e também o torna motivo de piadas de seus colegas na escola. Com isso, Nemo decide mostrar ao pai (e aos colegas) que sabe se virar sozinho e parte para nadar no mar aberto, mas é capturado por um mergulhador, gerando imenso desespero no pai, que parte numa jornada mar afora pra resgatar seu filho, junto com Dory (Ellen DeGenerees), uma divertida peixinha que tem um grave problema de memória recente.

Tecnicamente, o filme é soberbo. Convenhamos, o fundo do oceano é um lugar dificílimo de se reproduzir, e Procurando Nemo o consegue com um enorme sucesso. Todas as paisagens, todas as criaturas (e quantas são!), toda a reprodução de rodovias, estradas, semáforos… tudo beira a genialidade e a perfeição. A fotografia (Sharon Calaham e Jeremy Lasky) submarina também é outro fator sublime do filme, com efeitos de iluminação maravilhosos. Outra escolha acertadíssima é a escolha de atores australianos para a dublagem, já que a história se passa na costa australiana.



Procurando Nemo tem uma série de excelentes piadas, desde tubarões que querem melhorar a imagem pública da espécie, passando por divertidas tartarugas surfistas, até situações envolvendo a (falta de) memória de Dory. Essa última, inclusive, devora todas as suas cenas, tomando conta do filme quanto está em tela. Não é à toa que Ellen DeGeneres, que dubla a Dory na versão original, recebeu uma indicação a Melhor Humorista no MTV Movie Awards por seu desempenho na dublagem da esquecida peixinha (não que a premiação inspire confiança, mas é um dado a se levar em conta).

Falando em premiações, a produção ganhou o Oscar de Melhor Animação na cerimônia de 2004. Além de ter sido indicada a Melhor Filme Comédia/Musical no Globo de Ouro e a outras três categorias da Academia: Melhor Roteiro Original, Melhor Edição de Som e, claro, Melhor Trilha Sonora. E que trilha sonora de Thomas Newman! Como já é padrão da Pixar, ela faz o filme crescer, seja nas sequências de ação ou nas cenas mais dramáticas.

Fazendo outro gancho: Procurando Nemo foi o primeiro filme da Pixar a investir assim tão pesado em cenas dramáticas, como a que Marlin sai gritando por Nemo, por exemplo. Outro fator que ajuda a aumentar a força dramática do filme é o uso ao limite da tecnologia da época, fazendo com que os personagens tenham expressões faciais absurdamente impecáveis. Repare na sempre preocupada feição de Marlin, nas engraçadíssimas expressões de Dory ou, então, na semelhança de Gill com o rosto de seu dublador, Willem Dafoe.



Mas nem tudo são flores. Após a captura de Nemo, o filme se divide em dois: um acompanha o jovem peixinho num aquário de um dentista, lutando pra voltar pra casa e para seu pai; o outro acompanha Marlin e Dory, na busca por Nemo. E isso faz com que o filme acabe parecendo episódico, já que as transições entre uma ponta e outra se dão de maneira pouco inspirada, caindo no lugar-comum. Demérito de Andrew Stanton, diretor e roteirista. Isso também compromete o ritmo da trama, afinal, sempre que ele está crescendo, somos jogados pra companhia do outro membro da família.

À época, Procurando Nemo foi um estrondoso sucesso, fazendo mais de 867 milhões de dólares na bilheteria mundial, sendo, até hoje, a maior bilheteria que um filme da Pixar já alcançou. E é a quarta animação que mais arrecadou mundialmente, ficando atrás apenas de Shrek 2, Alice no País das Maravilhas e Era do Gelo 3. Apesar de ser a maior bilheteria, é fato que este não é o melhor filme do estúdio, ficando bem atrás de obras-primas como Wall-E, Toy Story 1 e 2 e Up – Altas Aventuras, mas está no mesmo nível de Monstros S.A. e Ratatouille e superior ao Vida de Inseto. Mesmo assim, Procurando Nemo é muito melhor que quase todos os filmes lançados em Hollywood, sejam eles em animação ou não.





Nome original: Finding Nemo
Ano: 2003
Duração: 101 minutos
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton
Elenco: Alexander Gould, Albert Brooks, Ellen DeGenerees, Willem Dafoe, Elizabeth Perkins

Imagens: divulgação

Crítica: Monstros S.A.

O imcompreendido bicho-papão


Monstros S.A. é a maior fábrica de sustos existente. Localizada em uma dimensão paralela, a fábrica constrói portais que levam os monstros para os quartos das crianças, onde eles poderão lhes dar sustos e gerar a fonte de energia necessária para a sobrevivência da fábrica. Entre todos os monstros que lá trabalham o mais assustador de todos é James P. Sullivan (John Goodman), um grande e intimidador monstro de pêlo azul e chifres, que é chamado de Sully por seus amigos. Seu assistente é Mike Wazowski (Billy Crystal), um pequeno ser de um olho só com quem tem por missão assustar as crianças, que são consideradas tóxicas pelos monstros e cujo contato com eles seria catastrófico para seu mundo. Porém, ao visitar o mundo dos humanos a trabalho, Mike e Sully conhecem a garota Boo (Mary Gibbs), que acaba sem querer indo parar no mundo dos monstros e provoca a expulsão de ambos para o mundo real.

Antes de mais nada, algumas observações: esse filme seria o fator determinante na carreira do estúdio, pois até agora tínhamos a excelente franquia Toy Story e o não tão bom Vida de Inseto, ou seja, Monstros S.A. carregava a responsabilidade de afirmar o talento da equipe que foi capaz de dar vida aos brinquedos.Não bastasse esse desafio, acrescente o então sucesso inesperado de Shrek, animação em computação gráfica produzida pela DreamWorks Animation.




O talento falou mais alto. Em 2001, a Pixar retornaria com uma ponta de ousadia ao divertir sua platéia com um filme protagonizado por... monstros!

Uma proposta que foge completamente dos padrões. Convenhamos: qual estúdio de animação em sã consciência faria um filme sobre as criaturas mais temidas pelas crianças? Será que eles não pensam no público?

Incrível como personagens tão feios e esquisitos conseguem ser tão carismáticos ao mesmo tempo! A justificativa dada para a existência desses monstros no "nosso mundo" é justificável! Cada elemento colabora na crença de que aquilo poderia mesmo existir. Estão lá: a trama bem amarrada, as sequências de ação que remetem a filmes sci-fi, o humor inteligente e bem dosado e a empatia causada pelos personagens. Abrem-se possibilidades para tudo.

Eis que se observa uma louvável característica do estúdio: o repeito por quem aprecia sua obra. Nada de demagogias, escassez de conteúdo ou assuntos limitados. Esqueça a velha lição de moral "querer é poder! acredite em si mesmo!", a Pixar consegue ir mais longe ao conseguir promover uma reflexão. Eles foram capazes de conhecer tão bem seu público e conseguiram com perfeição captar a sua essência: a criatividade e a dúvida. Duas coisas que quando são bem exploradas geram grandes ideias.

Nada é impossível.






Nome original
: Monsters, Inc.
Ano: 2001
Duração: 92 minutos
Direção: Pete Docter, David Silverman, Lee Unkrich
Roteiro: Andrew Stanton, Pete Docter, Bob Peterson
Elenco: John Goodman, Billy Crystal, Steve Buscemi, James Coburn, Jennifer Tilly, Mary Gibbs

Imagens: divulgação

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Crítica: Toy Story 2

Ao Infinito... E Mais Além!


Em 1995, uma longa metragem estava vindo para mudar o conceito de animação cinematográfica da década seguinte. Toy Story era o filme, o primeiro a ser feito inteiramente em CGI, pela Pixar Animation Studios.
4 anos depois, a Pixar retorna ao mundo dos brinquedos vivos, com uma continuação que supera o excelente primeiro filme. Toy Story 2 é o carro-chefe do fator que podemos considerar o diferencial do estúdio: Os dilemas reais e os questionamentos filosóficos dentro da trama principal. Não que isso já não tenha ocorrido nos dois filmes anteriores da casa, mas aqui isso é mostrado com mais profundidade. É por isso que digo que este é também um filme inovador.

Na trama, Woody e Buzz Lightyear, grandes amigos e os brinquedos favoritos de Andy, comandam a turma do quarto do garoto. O boneco vaqueiro sofre um rasgo no braço, fazendo com que Andy não o leve para o Acampamento Cowboy e, para completar o desespero da situação, um dos brinquedos é levado para a feira de usados. Ao tentar regata-lo, Woody é roubado por Al, um ganancioso dono de uma loja de brinquedos.
Buzz e sua equipe agora tem a missão de resgatar o amigo.

E assim se inicia a história principal, dividida em duas linhas narrativas. Buzz e os outros brinquedos na tentativa de resgate, e Woody e seus novos companheiros: a vaqueira Jessie, o Mineiro e o cavalo Bala no Alvo. Descobrimos então que o boneco xerife é um brinquedo raríssimo, vindo de uma famosa série de TV cancelada, e Al está prestes a vende-lo para uma exposição no Japão.


É no decorrer de sua luta para escapar que Woody começa a perceber que não é para sempre que ele terá a vida que todo brinquedo sonhou. Andy está crescendo e, com o tempo deixará de lado o que dava valor na infância e passará a se preocupar com as novas descobertas da adolescência e da vida adulta. Então, para que existir se não tem ninguém para brincar com você? Vale a pena se transformar num objeto de exposição para ser reconhecido como um item de valor, ou é melhor viver ao lado da pessoa que sempre deu importância à sua existência, mesmo que um dia isso acabe? Esse é o dilema que se encontra no filme, que dá força à trama.

Tudo é muito bem equilibrado com a ótima diversão e suas cenas mais leves e menos expressivas no quesito emocional. Uma que merece destaque é a sequência em que Buzz, no Celeiro de Brinquedos do Al, enfrenta uma outra versão dele mesmo, totalmente semelhante ao personagem no primeiro filme. Uma cena bastante hilária.
As cenas de ação também não ficam para trás. Vale destacar a sequência em que os brinquedos atravessam a rua embaixo de cones de trânsito, que é bastante divertida.
Os personagens secundários continuam bem explorados e divertidíssimos, completando as cenas com várias situações engraçadas e criativas. E para a alegria dos fãs de cinema, algumas referências à grandes filmes da sétima arte aparecem na tela, inclusive uma bem especial à franquia Star Wars.


A dublagem nacional, como de costume, está impecável. Guilherme Briggs novamente excelente como o astronauta Buzz Lightyear. Marco Ribeiro, substituindo o falecido Alexandre Lippiani, dá um show com a voz do xerife Woody, mantendo a essência estabelecida na primeira voz do personagem (Quase não se nota a diferença, na verdade).

Essa é a marca que o filme deixa. Toy Story 2 cumpre seu papel com magnitude e faz jus ao filme original.
11 anos depois, próximo da estreia do terceiro capítulo da aventura de Woody e compania, só podemos esperar mais uma obra fantástica para fechar a trilogia da franquia dos brinquedos. Dá-lhe Pixar!





Nome original: Toy Story 2
Ano: 1999
Duração: 92 minutos
Direção: John Lasseter e Lee Unkrich
Roteiro:
John Lasseter, Pete Docter, Ash Brannon, Andrew Stanton, Rita Hsiao, Doug Chamberlin e Chris Webb
Elenco:
Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Kelsey Grammer, Don Rickles, Jim Varney e Wallace Shawn

Imagens: divulgação

Crítica: Vida de Inseto

O menos "pixariano" da Pixar


Imagine-se uma formiga. Agora imagine que seu formigueiro está sob o domínio de um grupo de gafanhotos psicopatas que exigem que vocês, formigas, juntem uma quantidade de comida para eles, caso contrário… bem, você sabe. Agora adicione duas características à sua personalidade: você é engenhoso, adora fazer invenções, mas é desastrado. Muito. Pronto, você já está no lugar de Flik (Dave Foley), protagonista de Vida de Inseto, segundo longa da Pixar. Só contando um pouco mais a história, pra que você possa entender: Flik inventou uma máquina pra acelerar a colheita de comida, mas por conta do seu histórico de invenções falhas, ninguém dá bola ou sequer aceita usar essa invenção. E não dá outra: a desastrada formiguinha acaba estragando tudo que foi colhido para os gafanhotos e o prazo para a entrega aos gafanhotos já está no fim, o que faz com que todos queiram expulsar o pobre Flik do formigueiro, mas ele se candidata pra ir além da Ilha Formiga buscar guerreiros para combater os malvados gafanhotos. Já prevendo um insucesso dele, a Princesa Atta (Julia Louis-Dreyfus) permite que ele vá.

A premissa é bacana e inteligente. Porém, com exceção ao protagonista Flik, nenhum outro personagem parece lá muito interessante. Pelo contrário. A pequena Dot (Hayden Panettiere), por exemplo, é sem-graça e extremamente insuportável. A Princesa Atta também é desinteressante. Hopper (Kevin Spacey), o líder dos gafanhotos, é caricato ao extremo, mas até funciona, já que sua figura está ali para mostrar um ditador cruel. Ao contrário de Molt (Ricahrd Kind), irmão de Hopper, que divide com Dot a posição de pior personagem do filme. O “exército de guerreiros”, que Flik arranja, também não gera um maior interesse, mas cumpre o simplório papel de apenas fazer rir.



Mas o filme tem um trunfo que dura pouco tempo em tela, mas já é suficiente pra encher nossos olhos e se fixar em nossa memória por um bom tempo: a cidade dos insetos, onde Flik arruma os seus guerreiros. Linda, toda feita com caixas de alimentos, movimentada e que faz uma reprodução perfeita das nossas grandes cidades e que ainda conta com homenagens a outros filmes da casa, como Toy Story e Rei Leão (esse último, só da Disney). Outro trunfo são duas passagens inspiradíssimas: a que a joaninha Francis (Denis Leary), macho, se irrita ao receber cantadas de dois insetos e desfere: “Por que todos acham que toda joaninha tem que ser fêmea?”; e uma frase dita por uma mosca: “Só tenho 24h de vida, não vou desperdiçá-la aqui!”. Isto é, duas passagens dignas do selo Pixar.

Falando no estúdio, é até cruel a comparação com os outros filmes dele, já que quando Vida de Inseto foi lançado, a Pixar tinha feito apenas um longa: Toy Story. Ou seja, o escorregão é compreensível e perdoável. E outra: nem é um escorregão tão feio assim. Mas uma comparação inevitável é com o longa, também de animação, FormiguinhaZ, que além de ter sido lançado no mesmo ano, o longa da DreamWorks também se passa num formigueiro. E aí a crueldade é enorme e, nesse caso, justificável. O filme, que tem Woody Allen como a formiguinha Z do título, ganha de Vida de Inseto em praticamente todos os quesitos: personagens, história, consequências dos atos etc.

O fator em que Vida de Inseto tem como vantagem sobre FormiguinhaZ é a trilha sonora, que foi, inclusive, indicada ao Oscar, perdendo para o grande vencedor da cerimônia de 1999, Shakespeare Apaixonado. É bom lembrar que nessa época ainda não havia a categoria Melhor Longa de Animação.



E talvez o maior ponto fraco do filme seja só fazer rir, não criando personagens mais interessantes, desperdiçando ótimas oportunidades de criar laços mais fortes entre eles e, também com isso, levantar mais questões sociais e imergir nelas sem medo (o que FormguinhaZ fez com tremendo sucesso), e não apenas mostrar superficialmente alguns pontos que poderiam ser mais importantes no filme, como a luta contra a repressão e a importância de pensar com a própria cabeça, e não apenas seguir o que já é pré-estabelecido sem ao menos ponderar se isso está bom, se é certo ou se pode melhorar. Lição essa que a Pixar mostrou ter aprendido muito bem, como demonstrou com louvor nos seus longas seguintes.

Vida de Inseto funciona como divertimento rápido, esquecível, com poucas piadas inspiradas, mas nenhuma fora de contexto, o que faz o filme inteiro rodar bem sem ser cansativo ou maçante. O diretor John Lasseter (que já havia demonstrado imenso talento com Toy Story) conduz bem o roteiro, não permitindo que o filme soe episódico. Mas é fato que, ao fim do filme, o sentimento é de que ele poderia ter sido bem melhor.





Nome original: A Bug’s Life
Ano: 1998
Duração: 96 minutos
Direção: John Lasseter e Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton e John Lasseter
Elenco: Dave Foley, Kevin Spacey, Hayden Panettiere, Julia Louis-Dreyfus, Denis Leary e Richard Kind

Imagens: divulgação

Ao Infinito e Além!

O aniversário de Andy está chegando e os brinquedos estão nervosos. Afinal de contas, eles temem que um novo brinquedo possa substituí-los. Liderados por Woody, um caubói que é também o brinquedo predileto de Andy, eles montam uma escuta que lhes permite saber dos presentes ganhos. Entre eles está Buzz Lightyear, o boneco de um patrulheiro espacial, que logo passa a receber mais atenção do garoto. Isto aos poucos gera ciúmes em Woody, que tenta fazer com que ele caia atrás da cama. Só que o plano dá errado e Buzz cai pela janela. É o início da aventura de Woody, que precisa resgatar Buzz também para limpar sua barra com os outros brinquedos.

O desajustado xerife Woody (dublado por Tom Hanks) nos conquista logo em sua primeira aparição no filme. O mesmo acontece para os outros personagens, todos tem a sua devida relevância na história. Buzz Lightyear (dublado por Tim Allen), mesmo surgindo como uma espécie de "vilão", logo vai conquistando o afeto do público.

O Debut dos estudios Pixar é sensacional! Um filme divertido, engraçado, emocionante e inspirado! John Lasseter e sua equipe marcaram a história da animação ao apresentar o primeiro longa-metragem feito inteiramente em computação gráfica. Eles souberam utilizar sabiamente essa importante ferramenta que anos depois viria a ser tão comum. O que o filme nos apresenta em seu aspecto técnico é a tecnologia aliada a sensibilidade humana. São personagens muito bem construídos e que em seu universo conseguem refletir problemas humanos através de um novo ponto de vista. Problemas esses apresentados para um público infanto-juvenil numa linguagem de fácil entendimento, mas sem nunca desmerecê-los.


Talvez nem a própria Pixar pudesse prever que iria tão longe...





Nome original:
Toy Story
Duração: 81 minutos
Direção: John Lasseter
Roteiro: Joss Whedon, Andrew Stanton, Joel Cohen e Alec Sokolow
Elenco (vozes): Tom Hanks, Tim Allen, Don Rickles, Jim Varney e Wallace Shawn

Imagens: divulgação

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