sábado, 19 de junho de 2010

Crítica: Wall-E

Uma odisseia "chapliniana" no espaço


Wall-E tem início com a forte imagem da atual situação (no filme, não a nossa… ainda) do Planeta Terra: pilhas de lixo compactado, quente e praticamente deserto, a não ser pelo autor da compactação do lixo: Wall-E (Ben Burtt). O robozinho foi criado e programado pra isso, pra limpar a Terra enquanto os humanos fugiram pra viver em uma nave no espaço, a Axiom. É claro que não era somente ele, eram vários, mas só este aguentou as condições climáticas e o trabalho excessivo e contínuo depois de 700 anos! Até que um dia surge uma nave estranha do céu e dela sai uma robô diferente, branca, “moderna” (seu design foi feito com a ajuda de designers da Apple) e feminina. É EVA (Elissa Knight), a quem o solitário Wall-E (só tem a companhia de uma simpática baratinha) logo se interessa e passa a seguir. No começo ela não dá atenção ao nosso protagonista, mas ele é insistente e logo ela (junto com a gente) começa a ceder aos encantos do robozinho, até que algo inesperado acontece e a nave volta pra buscar EVA e Wall-E, desesperado, vai atrás dela. E vai parar justamente na nave onde os humanos vivem.

O primeiro “diálogo” do filme surge apenas aos 23 minutos de projeção. Apesar da “demora”, o filme não é em momento algum cansativo, já que todo esse primeiro ato serve pra mostrar a degradação da Terra causada pelos humanos. Tudo é feito com maestria graças ao excelente design de produção, ao excelente trabalho do diretor Andrew Stanton, que conduz com soberba habilidade a narrativa e, também, graças à trilha sonora de Thomas Newman, indicada ao Oscar. A fotografia também é outro ponto alto, com suas cores saturadas. Aliás, o diretor de fotografia contratado é ninguém menos que Roger Deakins, conhecido por ter fotografado filmes como O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, Uma Mente Brilhante, O Leitor, além de vários trabalhos com os irmãos Coen. Todo esse design do primeiro ato serve pra fazer um contraste maravilhoso com tudo que encontraremos na Axiom; todas as cores, a tecnologia evoluidíssima etc.



Também no primeiro ato, a personalidade de nosso querido robô que batiza o filme é completamente desenvolvida. E temos aqui um exemplar eletrônico de Charles Chaplin! Sim, queridos leitores, Wall-E nada mais é que uma homenagem a um dos maiores ícones do cinema de todos os tempos. A pureza, a simplicidade, a curiosidade, o jeito atrapalhado, a paixão por experiências novas e os olhos. Sim, Wall-E se comunica e expressa suas emoções de maneira sensacional com seus olhos, bem como Chaplin (quem não lembra do olhar do Vagabundo no final de Luzes da Cidade?). E o que dizer da coleção de Wall-E? Retira do lixo os objetos que ele se encanta, desde cubo mágico, até lâmpadas. E sem esquecer, é claro, da fita do filme Alô, Dolly, de 1969, o filme preferido de Wall-E (será que não é o único filme que ele conhece?). Uma imagem que contém um simbolismo enorme é uma em que ele encontra uma caixinha com anel brilhante dentro e logo se livra do anel e fica com a caixinha.

A turma de coadjuvantes também não fica atrás. EVA puxa o grupo como o interesse de Wall-E, determinada e inteligente, ela se encaixa perfeitamente na personalidade do protagonista. M.O., o robozinho aficcionado por limpeza, é garantia de sinceras risadas em todas as suas cenas e se firma (porque não?) como um dos melhores e mais divertidos coadjuvantes da filmografia da Pixar. E AUTO, praticamente uma re-encarnação de HAL9000, de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, também rivaliza com os outros personagens em cena. Falando em 2001 – Uma Odisseia no Espaço, é interessante observar as inúmeras homenagens que Wall-E presta ao maior clássico da ficção-científica dirigido por Stanley Kubrick. As mais óbvias são o AUTO e a música Assim Falou Zaratustra, o eterno “tema” do longa de Kubrick.



O filme teve seis indicações ao Oscar em 2009, mas poderiam (deveriam) ter sido sete, pelo menos, já que a Disney fez forte campanha pra que Wall-E estivesse entre os indicados a Melhor Filme, não apenas entre os de Melhor Animação. O que, infelizmente, acabou não acontecendo, gerando até um certo desconforto na Academia, com a evidente injustiça. Injustiça essa, que a Academia tentou consertar colocando Up – Altas Aventuras na categoria no ano seguinte. Além de Melhor Animação (o único Oscar que Wall-E levou pra casa), o filme foi indicado a Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original (Down to Earth) e Melhor Som e Mixagem de Som, que foram feitos pelo ilustre Ben Burtt, que fez os sons de Star Wars.

Wall-E se firma com uma clássico contemporâneo, como um dos grandes e mais importantes filmes desse século. Intelectualmente, o filme mais trabalhado. O mais adulto também, diga-se. Mesmo assim, o fascínio que Wall-E provoca não vê idades, já que conquista a todos. E é, diferentemente da maioria dos filmes que tratam da vulnerabilidade e fraqueza humana, extremamente otimista, onde somos guiados por um robô de volta ao caminho da redescoberta da importância de conhecer coisas novas, de viver coisas novas, de ser livre de preconceitos e/ou excessivo apego material, a resolução de que devemos aceitar diferenças, conviver com elas, aceitá-las e apreciá-las. Descobrir novamente que esse planeta é a nossa casa, e que temos que cuidar bem dela juntos, pois somos todos moradores dela. Pra ela, não há fronteiras de países, não há distinção de cor, credo ou opção sexual. E é assim que nós, humanos, devemos nos portar. Esse é o caminho. Wall-E é uma obra-prima. Uma ode ao amor. Uma ode à vida!





Nome Original: Wall-E
Ano: 2008
Duração: 98 minutos
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton
Elenco: Ben Burtt, Sigourney Weaver, Elissa Knight, Jeff Garlin

Imagens: divulgação

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