sábado, 19 de junho de 2010

Crítica: Toy Story 3

Ao infinito e além, onde cinco estrelas não são o suficiente


Primeiro veio Toy Story, todo o apuro visual, os personagens que todos aprenderam a amar, o roteiro brilhante e a revolução no jeito de fazer um longa de animação: completamente feito em computação gráfica. Depois, o não tão bom – mas divertido – Vida de Inseto. Em seguida, a sequência de Toy Story, onde novos personagens surgiam e o universo era ainda maior e o filme no nível do primeiro. Depois, a conciliação de perfeição visual (já pararam pra pensar como é difícil fazer os pêlos do Sully?) e estética (o melhor fundo do mar do cinema) com histórias lindas em Monstros S.A. e Procurando Nemo. Os problemas familiares de Os Incríveis, a velocidade de Carros e a amizade e repulsa ao preconceito de Ratatouille. Daí, o aparente ápice do estúdio, com o chapliniano robozinho Wall-E e todas as outras homenagens, principalmente a 2001 – Uma Odisseia no Espaço, que fez nos apaixonarmos pelo protagonista e pela EVA. Mantendo o nível do anterior, chegou o badalado Up – Altas Aventuras, com Carl Frederiksen, Russel, Dug e Kevin, colocando a Pixar entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme pela primeira vez. Sim, o ápice era aparente. Porque o que parecia perfeito, conseguiu melhorar, se aperfeiçoar. O novo ápice da Pixar é seu mais novo filme: Toy Story 3.

O universo você já conhece: os brinquedos têm vida e fazem tudo pra que seus donos se divirtam com eles. A história do terceiro filme é a seguinte: Andy (John Morris), hoje com 17 anos, não brinca mais com seus brinquedos e, agora que vai sair de casa pra ir à faculdade, tem que escolher um destino para os brinquedos que restam. Andy, então, decide guardar seus amigos no sótão, com exceção de Woody (Tom Hanks), que ele guarda nas coisas que irão com ele pra faculdade. Por um acidente, todos os brinquedos vão parar como doação numa creche, a Sunnyside. Creche, essa, que parece o paraíso para brinquedos rejeitados, abandonados e esquecidos. Lá somos apresentados a diversos novos personagens. Agora Woody, Buzz (Tim Allen), Jesse (Joan Cusack) e companhia terão que enfrentar diversos desafios e percalços para voltar à casa de Andy.



Ao contrário do que um filme normal em um estúdio normal faria, Toy Story 3 não transforma Andy num adulto frio. Pelo contrário, o roteiro de Michael Arndt (Pequena Miss Sunshine) mostra de maneira extraordinária que crescer não é fácil, e a hesitação de Andy de doar seus amigos de uma época inocente e pura que não volta mais, é não menos que soberba. Outro ponto forte do filme é já começar mostrando os brinquedos sob o olhar do Andy criança, para, em seguida, acompanharmos o crescimento dele sob os “olhos da mãe” (câmeras caseiras).

Desnecessário falar da abordagem do filme quanto à amizade, preconceito, autoritarismo, abandono etc. E o humor, então, que todos já conhecemos e adoramos, está lá. Tudo. Do jeito que a gente gosta. O mau-humor do Sr. Cabeça-de-Batata, a covardia e inocência de Rex, o Buzz voltando a achar que é um patrulheiro espacial, a “estabanação” de Woody… e agora um componente a mais: a “vaidade” de Ken, o famoso boneco namorado da Barbie. E a personalidade de todos os personagens estão impecáveis, nunca caindo em clichês que facilmente poderiam acontecer. A firmeza demonstrada pelos brinquedos num momento em que tudo parecia perdido é tocante e genial.



Seguindo o padrão Pixar, tecnicamente o filme também é irretocável. A animação é sensacional como sempre, com movimentos fluidos e expressões fantásticas. A direção de arte também se sobressai: o quarto de Andy, antes mesmo dele aparecer mais velho, já denuncia seus novos interesses, já que o antigo e conhecido papel-de-parede de nuvens, agora está coberto de posters e tudo o mais; a creche também é muito bem feita, detalhista e real, combinando a sala comportada com a sala das crianças mais novas, desde a bagunça, objetos jogados, desenhos pendurados ou fixados à parede… tudo impecável. A fotografia também é estupenda, mudando sutilmente a paleta nos diversos ambientes, mostrando só com isso perigo, segurança ou alegria, mas o faz sem parecer ofensiva. Alguns efeitos de iluminação também engrandecem o trabalho de Jeremy Lasky, diretor de fotografia (a “sala de tortura” é fantástica).

O clímax do filme é espetacular e desesperador, e conduzido de maneira perfeita pelo diretor Lee Unkrich. A trilha sonora de Randy Newman também não deixa por menos, e simplesmente se coloca a franca favorita ao Oscar 2011. Falando em Oscar, não é absurdo pensar que Toy Story 3 não só repetirá o sucesso de Up – Altas Aventuras, como deve também ser um dos grandes favoritos nas principais categorias. E todas as lágrimas acumuladas durante todo o filme, serão despejadas sem dó com a cena final. Este é o melhor filme do estúdio, e se continuar se superando desse jeito nos próximos filmes, se algum conseguir ser melhor que Toy Story 3, vou começar a ficar com medo da Pixar.

Três adendos:

1 – O curta exibido nos cinemas junto com Toy Story 3, Dia & Noite, é simplesmente sensacional, lindo, tocante, inteligente e inventivo. Chegue com boa antecedência à sala de cinema pra poder assisti-lo já confortável na poltrona;

2 – O filme tem a aparição de um personagem que conhecemos no primeiro filme, será que você reconhece?

3 – Agora com a trilogia fechada, Toy Story fica em pé de igualdade às trilogias de Senhor dos Anéis e Poderoso-Chefão como as melhores de todos os tempos.





Nome original: Toy Story 3
Ano: 2010
Duração: 103 minutos
Direção: Lee Unkrich
Roteiro: Michael Arndt, a partir de conceito de Andrew Stanton, John Lasseter e Lee Unkrich
Elenco: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Michael Keaton, Blake Clark, Don Rickles, John Morris

Imagens: divulgação

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