quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crítica: Karatê Kid

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Todo mundo conhece o Sr. Miyagi e o exercício de pintar a cerca que ele passava para o jovem Daniel. Todo mundo conhece e gosta desse filme, que ficou eternizado como um dos maiores clássicos da época áurea da Sessão da Tarde. E não só: o filme também fez sucesso lá fora, de público e crítica, colocando Pat Morita, o Sr. Miyagi, entre os indicados ao Oscar de melhor ator coadjuvante daquele ano. E é claro que com essa onda de remakes que inunda a Hollywood atual, Karatê Kid não iria escapar. E é uma grata surpresa que seu remake seja um excelente filme, ao contrário do que acontece com a maioria dos remakes.

A história não é novidade: pra conseguir respeito dos valentões da escola e da família da garota, o garoto, Dre (Jaden Smith), tem aulas de Kung Fu com o Mr. Han (Jackie Chan), o homem da manutenção. “Kung Fu”? Hã? É, apesar de manter o karate no nome, a arte marcial usada nesse é o kung fu, já que a trama se mudou para a China. Mas por quê diabos a China? Explico.



A China é o país que mais cresce no mundo, já é a segunda maior economia no planeta, atrás apenas dos EUA. E os EUA, ainda sofrendo com a crise financeira, depende da China, já que os americanos importam bastante da China, por conta do custo menos elevado em comparação a outros centros de importação (Cabe aqui um parênteses: torçamos pra que os EUA não quebre, já que a China importa muita matéria-prima brasileira na fabricação dos produtos que exporta aos EUA, seu maior comprador. Ou seja: se os EUA pararem de comprar da China, os chineses também diminuirão a compra de matéria-prima brasileira, o que causaria um grande impacto negativo em nossa economia). A China, por sua vez, precisa de propaganda, para atrair outros importadores e turismo, pra movimentar sua economia. E não só isso: a China também precisa de mão-de-obra especializada, vinda de fora, então nada melhor que fazer um filme que mostre uma China receptiva a estrangeiros. Um detalhe que mostra essa preocupação do filme é a quantidade de crianças estrangeiras na escola, o que nos leva a crer que seus pais se mudaram para o país vermelho para trabalhar. E foi justamente o que aconteceu com a mãe de Dre (interpretada pela sempre interessante Taraji P. Henson).

E o filme acerta ao dispensar certas explicações, que só inchariam o filme e que são realmente dispensáveis, por exemplo: qual o trabalho da mãe de Dre?, onde está o pai do garoto? etc. E o diretor Harald Zwart (A Pantera Cor-de-Rosa 2) e os roteiristas também mostram inteligência ao dispensar explicações para a rivalidade entre o Mr. Han e o professor da escola de kung fu, mostrando que os dois já se conheciam e que têm pensamentos diferentes sobre a arte marcial apenas pelos olhares trocados pelos dois, contando, aqui, com as atuações de Yu Rong Guang e Jackie Chan.



E falando nele, o astro de Police Story mostra que, diferentemente do que muitos pensavam, ele não é apenas um cara que faz filmes de luta e comédias, mas sim um grande ator. Apesar de não chegar na força de Pat Morita no primeiro Karate Kid, Jackie Chan tem uma atuação firme e segura e mostra um surpreendente e imenso talento em uma cena mais forte (alguns críticos estadunidenses estão afirmando que Chan merece uma indicação ao Oscar; talvez seja exagero, mas devido à escassez de candidatos, quem sabe?). O outro destaque fica para Jaden Smith, filho de Will Smith (que produziu o filme). O garoto mostra com talento o descontentamento de se mudar para um país com uma cultura completamente diferente, sensibilidade em uma cena em especial com Jackie Chan, uma química ótima com Chan e uma grande entrega física. Além de mostrar desenvoltura nas coreografias das lutas, Jaden ainda protagoniza uma cena ao melhor estilo Jean-Claude Van Damme (você vai saber que cena é essa quando a vir).

A trilha sonora de James Horner também merece destaque, tanto a instrumental, que se mostra acertada tantos nas cenas de luta, na cena de fuga ou nas cenas mais sentimentais; quanto as músicas escolhidas, que vão de AC/DC a Lady Gaga. O ponto baixo fica para a música dos créditos, Never Say Never, cantada por Justin Bieber e Jaden Smith (não é perseguição, juro!), mas vale acompanhar os créditos, que exibe fotos da produção, o que mostra que Will e Jada Pinkett Smith acompanharam de perto o filho Jaden durante o filme.

Essa versão de 2010 não chega a ser melhor que o filme de 1984, mas consegue chegar ao mesmo patamar. E tem uma vantagem sobre o original: em beleza coreográfica, o kung fu é muito melhor que o karate. Apesar da longa duração (135 minutos), em momento nenhum o filme soa cansativo ou arrastado, graças a bela direção de Zwart, a trilha sonora, a direção de arte e as paisagens chinesas, ainda mais bonitas com a fotografia de Roger Pratt. Já que Hollywood não deve parar tão cedo com os remakes, fica a torcida para que, de agora em diante, surjam mais remakes dignos, como esse Kung F… digo, Karatê Kid.





Nome original: The Karate Kid
Ano: 2010
Duração: 135 minutos
Direção: Harald Zwart
Roteiro: Christopher Murphey e Robert Mark Kamen
Elenco: Jackie Chan, Jaden Smith, Taraji P. Henson, Wen Wen Han, Zhenwei Wang, Yu Rong Guang

Imagens: divulgação

Um comentário:

  1. Não teria nada contra o filme se ele não tomasse o nome do clássico de Morita e Macchio, como tomou, eu tenho.

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