quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crítica: Tropa de Elite

Em certo momento de Tropa de Elite, o aspira Matias (André Ramiro), na faculdade, diz que os playboyzinhos deveriam, antes de reclamar da intervenção da polícia, parar de comprar seus baseados de fim de tarde da mão dos traficantes. Aproveitando o momento que estamos, de fervor político com as eleições, faço um paralelo: muitos jovens de classe média e alta reclamam de governantes corruptos, corrupção aberta, políticos mal-intencionados, mas, na hora de votar, escolhe o candidato mais bonito ou aquele famoso que ele vê no Ego ou no programa da Luciana Gimenez. Ou pior: chega a dizer que seu voto vale mais que o voto do pobre. Absurdo e cegueira. Reclamam da obrigatoriedade do voto, não querem sair na chuva ou largar a internet pra decidir o futuro do país. Mas esquecem, como bem citado pelo amigo Alcysio no blog dele, que muitos moradores de favelas e comunidades carentes, seriam obrigados a votar nos candidatos dos traficantes e das milícias. E sem o contra-peso do voto do outro lado da cidade, estes candidatos acabariam eleitos com boa margem.

Essa corrupção que a gente vê na política, e que o jovem reclama, mas não faz nada para evitar, é a origem da impunidade do chefe de polícia, que recebe a sua mesada pra deixar o tráfico tomar conta da favela, a punho de ferro. Aí o policial honesto vai tentar barrar o comércio de drogas lá embaixo, na cidade, entre os playboyzinhos da classe média, e esses mesmos playboyzinhos reclamam da truculência policial. E reclamam do político corrupto. Ciclo infinito, onde o país sai perdendo.

"Mas pera lá, Alailson, isso não era a crítica de Tropa de Elite? O que tem a ver isso que você tá falando?". Tudo, amigo. E se você não vê a relação, me desculpe, mas você precisa trabalhar seu intelecto.



Falar a sinopse do filme é quase desnecessário, já que 80% do Brasil já assistiu, mas vamo lá: Neto (Caio Junqueira) e Matias (Ramiro) são dois policiais honestos que não conseguem subir na corporação por conta da completamente disseminada corrupção. Por isso vão fazer o treinamento no BOPE (Batalhão de Operações Especiais), onde, supostamente, não há espaço para a corrupção e onde está o icônico Capitão Nascimento (Wagner Moura). (Sim, "supostamente", apesar do filme dizer que não há corrupção no BOPE, meu pessimismo e ceticismo me impedem de acreditar piamente nisso.)

Capitão Nascimento é adepto do famoso "bandido bom é bandido morto", por isso, não exita em torturar testemunhas ou inocentes para conseguir informações que o levem para o bandido. E até matá-los e colocar na "conta do Papa". Métodos absurdos, mas que nos faz acabar aceitando-os ali, dada a sensação de impunidade que os bandidos (inclui-se aqui os policiais corruptos) têm. E isso é o absurdo maior: pensar que só medidas drásticas e imorais podem resolver o problema, já enraizado no país.

José Padilha é soberbo ao mostrar cruamente a realidade da polícia e das favelas. Mas a soberba maior do filme é de Wagner Moura, que transforma o Cap. Nascimento numa figura fascinante, cheia de nuances, todas elas usadas com maestria por Wagner. Apesar de ser drástico e ir às últimas consequências no trabalho, Nascimento sabe que, ao mesmo tempo que é o único jeito viável, isso é errado. O que é demonstrado quando ele chega em casa, com semblante desolado e que desconta a raiva na mulher (Maria Ribeiro, contida e ótima), uma figura que, para ele, está abaixo dele.



André Ramiro e Caio Junqueira, como os aspiras, também carregam o filme em suas cenas. Junqueira como o impulsivo Neto e Ramiro como o inteligente e cauteloso Matias. Se no elenco coadjuvante não há um grande destaque, o ótimo é que ele mantém o bom nível de atuação do filme. Talvez, dentre os coadjuvantes, quem se destaque seja Milhem Cortaz, como o policial que, percebendo que perdeu espaço nos seus esquemas, tenta ingressar no BOPE.

O filme foi severamente criticado exatamente por não virar o rosto ou passar o cobertor em cima. O que é preocupante, já que mostra que boa parte da sociedade considera que se não ver o problema, ele não existe. Um erro, omitir-se é tão grave quanto os atos do tráfico, dos políticos ou do Cap. Nascimento. Mas para esse pessoal que criticou o filme, não, eles acham que tão acima disso. Não estão. Pelo contrário.

Tropa de Elite 2 estreia essa sexta-feira nos cinemas e também terá crítica, a ser postada nesse final-de-semana, mais tardá segunda-feira. José Padilha volta pra direção e Wagner Moura e André Ramiro para seus papéis.





Nome Original: idem
Ano: 2007
Duração: 118 minutos
Direção: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani, José Padilha e Rodrigo Pimentel
Elenco: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Milhem Cortaz, Fernanda Machado e Maria Ribeiro.

Imagens: Divulgação

Um comentário:

  1. Acho que foi uma ótima ideia aliar a ação,à realidade social do país.Uma prova de que dá pra fazer certos filmes no Brasil,sim.É só querer.
    Tá chegando o segundo,que fico muito feliz em dizer,espero com empolgação.

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