
Essa corrupção que a gente vê na política, e que o jovem reclama, mas não faz nada para evitar, é a origem da impunidade do chefe de polícia, que recebe a sua mesada pra deixar o tráfico tomar conta da favela, a punho de ferro. Aí o policial honesto vai tentar barrar o comércio de drogas lá embaixo, na cidade, entre os playboyzinhos da classe média, e esses mesmos playboyzinhos reclamam da truculência policial. E reclamam do político corrupto. Ciclo infinito, onde o país sai perdendo.
"Mas pera lá, Alailson, isso não era a crítica de Tropa de Elite? O que tem a ver isso que você tá falando?". Tudo, amigo. E se você não vê a relação, me desculpe, mas você precisa trabalhar seu intelecto.

Falar a sinopse do filme é quase desnecessário, já que 80% do Brasil já assistiu, mas vamo lá: Neto (Caio Junqueira) e Matias (Ramiro) são dois policiais honestos que não conseguem subir na corporação por conta da completamente disseminada corrupção. Por isso vão fazer o treinamento no BOPE (Batalhão de Operações Especiais), onde, supostamente, não há espaço para a corrupção e onde está o icônico Capitão Nascimento (Wagner Moura). (Sim, "supostamente", apesar do filme dizer que não há corrupção no BOPE, meu pessimismo e ceticismo me impedem de acreditar piamente nisso.)
Capitão Nascimento é adepto do famoso "bandido bom é bandido morto", por isso, não exita em torturar testemunhas ou inocentes para conseguir informações que o levem para o bandido. E até matá-los e colocar na "conta do Papa". Métodos absurdos, mas que nos faz acabar aceitando-os ali, dada a sensação de impunidade que os bandidos (inclui-se aqui os policiais corruptos) têm. E isso é o absurdo maior: pensar que só medidas drásticas e imorais podem resolver o problema, já enraizado no país.
José Padilha é soberbo ao mostrar cruamente a realidade da polícia e das favelas. Mas a soberba maior do filme é de Wagner Moura, que transforma o Cap. Nascimento numa figura fascinante, cheia de nuances, todas elas usadas com maestria por Wagner. Apesar de ser drástico e ir às últimas consequências no trabalho, Nascimento sabe que, ao mesmo tempo que é o único jeito viável, isso é errado. O que é demonstrado quando ele chega em casa, com semblante desolado e que desconta a raiva na mulher (Maria Ribeiro, contida e ótima), uma figura que, para ele, está abaixo dele.

André Ramiro e Caio Junqueira, como os aspiras, também carregam o filme em suas cenas. Junqueira como o impulsivo Neto e Ramiro como o inteligente e cauteloso Matias. Se no elenco coadjuvante não há um grande destaque, o ótimo é que ele mantém o bom nível de atuação do filme. Talvez, dentre os coadjuvantes, quem se destaque seja Milhem Cortaz, como o policial que, percebendo que perdeu espaço nos seus esquemas, tenta ingressar no BOPE.
O filme foi severamente criticado exatamente por não virar o rosto ou passar o cobertor em cima. O que é preocupante, já que mostra que boa parte da sociedade considera que se não ver o problema, ele não existe. Um erro, omitir-se é tão grave quanto os atos do tráfico, dos políticos ou do Cap. Nascimento. Mas para esse pessoal que criticou o filme, não, eles acham que tão acima disso. Não estão. Pelo contrário.
Tropa de Elite 2 estreia essa sexta-feira nos cinemas e também terá crítica, a ser postada nesse final-de-semana, mais tardá segunda-feira. José Padilha volta pra direção e Wagner Moura e André Ramiro para seus papéis.

Nome Original: idem
Ano: 2007
Duração: 118 minutos
Direção: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani, José Padilha e Rodrigo Pimentel
Elenco: Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Milhem Cortaz, Fernanda Machado e Maria Ribeiro.
Imagens: Divulgação
Acho que foi uma ótima ideia aliar a ação,à realidade social do país.Uma prova de que dá pra fazer certos filmes no Brasil,sim.É só querer.
ResponderExcluirTá chegando o segundo,que fico muito feliz em dizer,espero com empolgação.